Retalhos

"Posso não concordar com uma só palavra que disseres, mas defendo até a morte o teu direito de dizê-las". Voltaire.

terça-feira, abril 24, 2007

O país à lupa de António Barreto

por I.Pereirinha

A RTP começou a emitir o excelente documentário “Portugal um Retrato Social”, da autoria do sociólogo António Barreto. Não é preciso ser especialista na matéria para constatar que, de facto, a sociedade contemporânea portuguesa mudou, transformou-se. Mas estamos assim tão diferentes desde há trinta ou quarenta anos?
Somos mais exigentes e, já agora, mais tecnológicos, mas continuamos a professar o triste fado da nossa condição. Há vítimas de tudo e mais alguma coisa. Do Governo, da falta de visão dos ministros, em especial o das finanças e da economia, do chefe e do vizinho do lado. É a Euribor que teima em estragar os nossos planos de férias e os diários da manhã que nos impingem o PSI 20 ao pequeno-almoço. Está no nosso sangue queixarmo-nos da vida.Já gostamos de protestar e mostrar a nossa intransigência em público. Temos a mania que somos frontais. Discutimos com mais facilidade e até chegamos à agressão física ou verbal quer seja na rua, na fila do supermercado ou à saída de um conselho nacional. Se for preciso...Continuamos adeptos do espírito do ‘desenrascanço’ e mestres pedintes. Desenrascam-se umas facturas da farmácia para entrar no IRS e umas parabólicas para assistir aos jogos da bola de graça; pede-se mais uma cunha para uma consulta no hospital público e um lugar no infantário para os filhos; ganham-se uns euros a mais nos clientes que alinham no crédito por telefone, num seguro de saúde ou no novo leasing financeiro imobiliário.
Já não somos tão submissos, mas continuamos dependentes de bens de luxo. Somos dos poucos países europeus cuja grande maioria da população teve mais de cinco telemóveis - com câmara e vídeo incorporados - em 2 anos. Somos fãs da última geração em tudo e mais alguma coisa.
Preocupamo-nos mais com o nosso bem-estar e aparência. Já não andamos descalços nem esfarrapados. As mulheres já tiram o bigode, fazem as unhas, mudam a cor do cabelo e teimam em aderir às últimas tendências do vestuário, mesmo que isso signifique mostrar um pedaço a mais de gordura indesejável. Há também muitos homens que não abdicam do seu creme matinal…
Volto à questão inicial. Mas estamos assim tão diferentes? Experimentem sair aos domingos à tarde agora que a Primavera está instalada até o Verão surgir no calendário. Basta esperar por um dia de sol e temos acesso a uma amostra bem característica do típico português, ainda à imagem dos bons velhos tempos.É certo já não somos tão pobres, tão analfabetos, tão rurais. Mas é impressão minha ou há três prioridades que ainda não mudaram: Fado, Futebol e Fátima.
É o contínuo País dos três ‘Fs’. Já agora, e passo a publicidade ao programa, os sete episódios do documentário “Portugal um Retrato Social” são exibidos no pico do horário nobre (às 21h00), exceptuando nos dias em que há… futebol. Aí, António Barreto dá voz à sua lupa por volta das 22h00. Claro!