Retalhos

"Posso não concordar com uma só palavra que disseres, mas defendo até a morte o teu direito de dizê-las". Voltaire.

sexta-feira, abril 27, 2007

A quem de direito

"Que a ideia que alguém nos faz sentir bem nos acompanhe, que a ideia que existe algo que não conseguimos explicar nos motiva e que acima de tudo tenhamos sempre alguém que esteja sempre lá"
Gonçalo Botelho Reis

terça-feira, abril 24, 2007

O país à lupa de António Barreto

por I.Pereirinha

A RTP começou a emitir o excelente documentário “Portugal um Retrato Social”, da autoria do sociólogo António Barreto. Não é preciso ser especialista na matéria para constatar que, de facto, a sociedade contemporânea portuguesa mudou, transformou-se. Mas estamos assim tão diferentes desde há trinta ou quarenta anos?
Somos mais exigentes e, já agora, mais tecnológicos, mas continuamos a professar o triste fado da nossa condição. Há vítimas de tudo e mais alguma coisa. Do Governo, da falta de visão dos ministros, em especial o das finanças e da economia, do chefe e do vizinho do lado. É a Euribor que teima em estragar os nossos planos de férias e os diários da manhã que nos impingem o PSI 20 ao pequeno-almoço. Está no nosso sangue queixarmo-nos da vida.Já gostamos de protestar e mostrar a nossa intransigência em público. Temos a mania que somos frontais. Discutimos com mais facilidade e até chegamos à agressão física ou verbal quer seja na rua, na fila do supermercado ou à saída de um conselho nacional. Se for preciso...Continuamos adeptos do espírito do ‘desenrascanço’ e mestres pedintes. Desenrascam-se umas facturas da farmácia para entrar no IRS e umas parabólicas para assistir aos jogos da bola de graça; pede-se mais uma cunha para uma consulta no hospital público e um lugar no infantário para os filhos; ganham-se uns euros a mais nos clientes que alinham no crédito por telefone, num seguro de saúde ou no novo leasing financeiro imobiliário.
Já não somos tão submissos, mas continuamos dependentes de bens de luxo. Somos dos poucos países europeus cuja grande maioria da população teve mais de cinco telemóveis - com câmara e vídeo incorporados - em 2 anos. Somos fãs da última geração em tudo e mais alguma coisa.
Preocupamo-nos mais com o nosso bem-estar e aparência. Já não andamos descalços nem esfarrapados. As mulheres já tiram o bigode, fazem as unhas, mudam a cor do cabelo e teimam em aderir às últimas tendências do vestuário, mesmo que isso signifique mostrar um pedaço a mais de gordura indesejável. Há também muitos homens que não abdicam do seu creme matinal…
Volto à questão inicial. Mas estamos assim tão diferentes? Experimentem sair aos domingos à tarde agora que a Primavera está instalada até o Verão surgir no calendário. Basta esperar por um dia de sol e temos acesso a uma amostra bem característica do típico português, ainda à imagem dos bons velhos tempos.É certo já não somos tão pobres, tão analfabetos, tão rurais. Mas é impressão minha ou há três prioridades que ainda não mudaram: Fado, Futebol e Fátima.
É o contínuo País dos três ‘Fs’. Já agora, e passo a publicidade ao programa, os sete episódios do documentário “Portugal um Retrato Social” são exibidos no pico do horário nobre (às 21h00), exceptuando nos dias em que há… futebol. Aí, António Barreto dá voz à sua lupa por volta das 22h00. Claro!

quinta-feira, abril 19, 2007

Este homem é um espectáculo...

Esta minha liberdade

Já houve tempos em que tinha tudo não tendo quase nada, já houve tempos em que vivia acorrentado a memórias nem sempre alegres, mas verdade seja dita, passado este tempo todo são essas mesmas memórias que me motivam e me fazem acreditar que o melhor ainda está para vir. Velhos conhecidos trazem um novo alento a uma vida que em tudo só me dá motivos para sorrir. Não que espere grandes reviravoltas, mas pelos menos que nunca fique pior, porque esta minha liberdade a mim ninguém me a tira.

quarta-feira, abril 18, 2007

JÁ ALGUMA VEZ EXPERIMENTOU O DESEJO DE NÃO MAIS LER JORNAIS E DE PARTIR O SEU TELEVISOR ?

Nesse caso compreendeu que :

a) Os jornais, a rádio, a televisão são os veículos mais grosseiros da mentira. Não só nos afastam a todos os verdadeiros problemas — do «como viver melhor» que se pôe concretamente todos os dias — como também levam cada indivíduo, em particular, a identificar-se com as imagens já feitas, a colocar-se abstractamente no lugar dum Chefe de Estado, de uma vedeta, de um assassino de uma vítima, em suma, a reagir como se fosse um outro. As imagens que nos dominam são o triunfo daquilo que nós não somos e do que nos afasta do nós próprios; do que nos transforma em objectos a classificar, etiquetar, hierarquizar, segundo o sistema da mercadoria universalizada.

b) Existe uma linguagem ao serviço do poder hierarquizado. Não se encontra apenas na informação, na publicidade, nas ideias feitas, nos hábitos, nos gestos condicionados, mas também em toda a linguagem que não prepara a revolução da vida quotidiana, em toda a linguagem que não está ao serviço dos nossos prazeres.

c) O sistema mercantil impõe as suas representações, as suas imagens, o seu sentido, a sua linguagem, de cada vez que se trabalha para ele, ou seja, a maioria do tempo. Este conjunto de ideias, de imagens, de identificações, de comportamentos condicionados pela necessidade de acumulação e renovação de mercadorias, formam o ESPECTÁCULO onde cada um representa falsamente aquilo que não é. Daí que o papel seja uma mentira viva e a sobrevivência um mal-estar permanente.

d) O espectáculo (ideologias, cultura, arte, papéis, imagens, representações, palavras-mercadorias) é o conjunto de comportamentos sociais, através dos quais, os homens entram no sistema mercantil, nele participam contra si próprios, tornando-se objectos de sobrevivência — mercadorias — renunciando ao prazer de viverem realmente para si e de construírem livremente a sua vida quotidiana.

e) Sobrevivemos num conjunto de imagens às quais somos levados a identificar-nos. Agimos cada vez menos por nós próprios e cada vez mais em função de abstracções que nos dirigem, segundo as leis do sistema mercantil (lucro e poder).

f) Os papéis ou as ideologias podem ser favoráveis ou hostis ao sistema dominante, o que é pouco importante, uma vez que continuam no espectáculo, no sistema dominante. Só o que destrói a mercadoria e o seu espectáculo é revolucionário.De facto, você já está saturado da mentira organizada, da realidade invertida, dos fingimentos que macaqueiam a vida verdadeira e acabem por empobrecê-la.

Você luta já, conscientemente ou não, por uma sociedade em que o direito de comunicação real, pertença a todos, onde cada um possa dar a conhecer o que lhe diz respeito, graças à livre disposição das técnicas (tipografias, telecomunicações) onde a construção de uma vida apaixonante, liquida a necessidade de ter um papel e de dar mais valor à aparência que ao vivido autentico.

Ratgeb (Raoul Vaneigem), in "da greve selvagem à autogestão generalizada" assírio & alvim (1974)